Essas cidades

Não repare as aparências dessas cidades ruidosas.

São reticentes, nas manhãs, na chegada dos bêbados.

É obscena no despontar dessas mulheres nuas, entre ruas.

Não há manhã nessa vida precária desses andantes autômatos.

Socialize o malandro, perdoe a prostitua.

Irmane-os para que não sintam frio e solidão,

em seus quartos solitários, nessa fome de carinho,

nessa vida impertinente de momentos fugazes.

Respeite a magia da cidade, seja parceiro dos notívagos.

Ame-os nessa incongruência, nessa falta de amparo.

Suas madrugadas são desprovidas de sol, somente frio.

Sempre vivendo assim, nessas cidades de arremedos.

Essas cidades de concretos e reticências,

guardando seus bêbados e vagabundos, nessa luta,

entristecendo crianças órfãs, amarguradas, ermas,

desfazendo amores nas noites frias, nesses bares.

Não repare as aparências dessa gente triste, descompassadas,

nesses arremedos de cidades, em suas belezas ásperas,

descontinuadas nessas angústias em cada dia descompassadas.

Cidades de grades interpondo as pessoas, aprisionando-as.

Cidades embaçadas pela fumaça, destituída de sentido,

nesse vai e vem, nesses desamores, nesses cinzentos dias,

dessas vidas autômatas, desses desertos de concretos,

sufocantes arranha-céus entre chuvas ácidas, nessas cidades frias.

Não repare nas aparências dessas crianças, sem horizonte,

entre prédios, sem gramas, sem poesias, nessas cidades.

Esse caos urbano, nesses espectros humanos, corroídos pelo tempo,

entre medos, comiserações, nestas endurecidas, conflituosas…

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